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O legado de Robinson Cavalcanti

“Onde está, ó morte, a tua vitória”?

Na manhã do domingo, 26 de fevereiro de 2012, o protestantismo brasileiro acordou com um militante a menos. Isso porque Don Robinson Cavalcanti e sua esposa foram encontrados mortos em sua casa. O filho adotivo do casal é considerado o principal suspeito pela polícia. Robinson Cavalcanti, bispo anglicano, escreveu diversos livros significativos para o cristianismo brasileiro e também militou em diversas causas sociais e estudantis cristãs.
O crime chocou a todos e, como em todas as tragédias, ninguém estava preparado para tal sofrimento. A morte sempre será – em qualquer circunstância e de qualquer modo – um ato de violência; uma interrupção brutal; uma dor excruciante. Fatos tristes e dramáticos como o assassinato do bispo anglicano e sua esposa nos lembram de uma verdade indigesta, mas irremediável em relação à morte: ninguém está imune a ela. Não importa o quanto se lute contra, nem o quanto bravo se é, este é um evento inexorável da vida: enquanto caminharmos sob o solo desse chão, a morte sempre estará à espreita nos aguardando em uma das curvas de nosso curto caminho.
Não é errado temermos a morte. Afinal, ela não fazia parte do plano original de Deus para suas criaturas. A morte é uma intromissão no bom mundo de Deus. Por isso, toda a repulsa humana por ela é de certa forma justificável. Todos reagem de uma maneira peculiar diante da morte. Uns a aceitam; outros não. Woody Allen, famoso cineasta americano, por exemplo, demonstrou com humor todo o seu pavor de morrer ao dizer: “Não é que eu tenha medo da morte. Eu apenas não quero estar lá quando isso acontecer”.  Já o Deão da Catedral de São Paulo, na Inglaterra, no século 17, John Donne, parece que reagiu de maneira diferente à morte. Em plena peste bubônica, confinado em uma cama em razão dessa doença, escreveu no intuito de entender o dilema da morte. De início, sua atitude foi a de total desepero e desesperança. No entanto, mais tarde sua reflexão o levou a descansar em Deus mesmo diante desse terrível mal. Ele pode escrever depois de algum tempo:
Eu pequei por temer que ao chegar ao meu fim
Na última remada eu vá morrer no cais.
Mas jura-me por ti que teu Filho então sim
Brilhará como agora e sempre muito mais.
E ao chegares ao fim, então terás o fim,
Pois já não temo mais.*
(*citado no livro Alma Sobrevivente, de Philip Yancey)
Parece mesmo que toda reflexão sob a ótica cristã a respeito da morte finda com esta constatação: não há porque temer.  Isso se deve à certeza que os cristãos têm de que, para eles, a morte já não é o ponto final. Ela é apenas um lapso em nossa jornada espiritual; uma porta que se abre para a eternidade; uma ponte pela qual passaremos para chegar ao outro lado da margem dessa existência. Essa esperança, no entanto, não nos faz insensíveis e imunes à dor causada pela morte. O próprio Jesus chorou quando seu amigo Lázaro morreu. Aliás, antes de morrer ele mesmo chorou no Getsêmani . Porém, a promessa que temos é a de que, no regresso de nosso Senhor Jesus Cristo seremos ressuscitados!
Essa é a razão pela qual, por vezes, parecemos indecorosos com a morte ao ponto de debocharmos dela dizendo: “Onde está ó morte a sua vitória?” (I Cr 15.55). A razão desse deboche vem de nossa inabalável certeza de que: “Nem a morte, nem a vida, nem anjos, nem autoridades celestiais, nem coisas do presente nem do futuro, nem poderes, nem altura, nem profundidade, nem qualquer outra criatura poderá nos separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm 8.38-39). Enquanto o dia alegre do retorno de Jesus não vem, choramos sempre, ainda que temporariamente, diante da perda de um querido irmão.
Kassio F. P. Lopes é missionário em Corumbá (MS).

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