Santidade combina com alegria

O sábado é um dia separado, para nos alegrar no Senhor

Santidade. Basta ouvir essa palavra e muitos cristãos a associam com postura rígida, rosto sem sorriso, mau humor. Nada de boas brincadeiras, conversas informais ou boas piadas. Infelizmente, santidade é muitas vezes associada a um temperamento sisudo, com uma seriedade extrema, sem espaço para gargalhadas e descontração. Porém, será que santidade nos levar a ter uma postura que não nos permite combiná-la com leveza, simpatia e felicidade?
Bom, pelos menos para o Senhor, a alegria é uma boa combinação com santidade. Quando Neemias, numa leitura coletiva da Palavra, junto com Esdras e os levitas, liam e explicavam a Lei do Senhor para uma multidão de homens, mulheres e todos os que podiam entender (Ne 8:1-8), a reação inicial foi o choro. Estavam com saudades de ouvir a Lei. O choro era de quebrantamento pelos seus pecados, por não estarem vivendo de acordo com a Palavra.
Aliás, era um dia sagrado: “se pode deduzir de Levítico 23.23-25 que eles se reuniram ‘no primeiro dia do sétimo mês’, por ser considerado dia do descanso consagrado ao Senhor, provavelmente o festival do Ano Novo. Levítico chama o primeiro dia do sétimo mês de ‘dia de completo descanso’”[1]. Portanto, para muitos, era de se esperar um pedido da liderança ao povo, de rostos fechados e corações entristecidos, entretanto o que a liderança pediu é bem diferente:
“... Este dia é consagrado ao SENHOR, nosso Deus, e por isso vocês não devem prantear nem chorar. (Ne 8:9b) … Portanto, não fiquem tristes, porque a alegria do SENHOR é a força de vocês. (v.10c) Os levitas tranquilizaram todo o povo, dizendo: — Acalmem-se, porque este dia é santo. Não fiquem tristes.” (v.11) Em pelo menos três versículos, ecoa-se o mandamento de se alegrar no dia sagrado.
Quando pensamos no dia do Senhor, o sábado, devemos pensar nesse princípio de Neemias: um dia separado, para nos alegrar no Senhor. Um dia para nos lembrar que nosso Criador é a nossa alegria, e que ele deseja que nossa vida seja uma constante celebração de sua graça salvadora e de uma obediência amorosa. Em Neemias 8, percebemos como santidade e alegria podem caminhar juntas, afinal, como diria C. S. Lewis, “No céu a alegria é levada a sério”.
 
 
 
[1] Neemias 8.1-3, 5-6, 8-10. Disponível em: https://www.luteranos.com.br/textos/neemias-8-1-3-5-6-8-10. Acesso: 31/01/20

Sábado, um presente para a humanidade

“Seis dias da semana procuramos dominar o mundo, no sétimo dia nós tentamos dominar o eu”

As agências de viagens, ou colônias de férias não sabem, mas o homem foi criado para o descanso. Ao contrário do que insistimos em imaginar, Deus não criou o homem para o trabalho; o criou primeiro para o descanso, e só depois para o trabalho. A criação é tomada como ponto de partida para essa afirmação uma vez que Deus, ao criar céus e terra (Gn 1.1), após haver dito: “haja luz”, decretou a luz como Dia, e as trevas, Noite. E foi então tarde e manhã, o primeiro dia (Gn 1.5).
O relato segue com a mesma descrição, sempre “tarde e manhã” na conclusão de cada dia (Gn 1.5; 1.8; 1.13; 1.19; 1.23; 1.31). Ainda no sexto dia, antes de Deus decretar o sétimo dia, após criar o homem, ele ordena: “enchei e sujeitai a terra” (Gn 1.28). Porém, antes do trabalho do homem, Deus havia concluído sua obra, então, “Abençoou Deus o sétimo dia e o santificou, porque nele descansou de toda a obra que realizara na criação.” (Gn 2.3 NVI)
Deus descansa, abençoa e santifica. Mas Deus se cansa? Isaías afirma que não, Deus não se cansa! (Is 40.28). Então, qual é de fato o sentido de “descansou Deus no sétimo dia”? Gerard Von Groningen afirma que o “termo traduzido por ‘descansou’ traz o sentido de que Ele ‘sabateo’”, isto é, que Ele celebrou o término do que havia criado, tendo declarado sua obra como acabada, completa. Ele escolheu aquele dia como um Dia Santo, no qual desfrutou do que era bom, perfeito e completo.”
É preciso entender, então, este tempo, uma vez que a criação é realizada no tempo. O que Deus quer de fato ensinar ao homem com o sábado é que o homem não é dono do tempo. Em outras palavras, o tempo, como parte da criação de Deus (Gn 1.1-5), não está no poder do homem; Deus o controla, e o faz de tal forma que separa, abençoa e santifica um dia em especial. Esse controle do tempo é estabelecido como um padrão na criação. No sétimo dia, o homem deveria cessar, parar e se preparar para um momento de encontro com Deus. Em outras palavras, só é ser humano à imagem e semelhança de Deus aquele que se expõe a esse tempo, o sábado do Senhor.
O sábado é o dia de guardar as ferramentas, as pastas e os computadores; é o dia de celebração, é o dia da festa da criação, como bem afirmou Heschel: “O significado do Schabat é, antes, o de celebrar o tempo, e não o espaço. Seis dias da semana vivemos sob a tirania das coisas do espaço; no Schabat tentamos nos tornar harmônicos com a santidade do tempo.” Deus santificou o dia de sábado e desfrutar dessa santidade exige um total abandono do comércio, da ganância, e dizer adeus ao trabalho, pois o mundo já foi criado. Afirma Heschel: “Seis dias da semana procuramos dominar o mundo, no sétimo dia nós tentamos dominar o eu.” O sábado é um presente para humanidade porque é dedicado à vida; é um Deus amoroso que nos mostra de forma prática que não somos “animais de carga”, mas homens e mulheres criados à imagem e semelhança de Deus, portanto, não precisamos apenas descansar o corpo, mas festejar a obra realizada, celebrar a vida sustentada.
Cessar o trabalho é parar no tempo para encontrar um outro tempo, não terreno, não humano, mas o tempo da eternidade posto como desejo profundo dentro de nós (Ec 3.11). Com isso, Deus quer nos levar a entender que, durante seis dias, somos sufocados pelos nossos afazeres, mas o sétimo dia é quando saímos do que é terreno para adentrarmos no que é eterno.
É evidente que Deus cessou a obra dele, pois tudo que deveria estar criado, assim estava. Mas nós, homens e mulheres de hoje, temos uma obra que aparentemente não cessa, semana após semana insistimos em trabalhar como máquinas. Então o que o Senhor nos quer ensinar com o sábado? Acredito que seja nos levar na direção do Salmo 23. Entender o cuidado de Deus é tomar consciência de que nada sentimos falta. Ou seja, trabalhamos de domingo a sexta-feira, mas no sétimo dia, no sábado do Senhor, nós damos nosso trabalho como encerrado, nossa obra cessa. Quando fazemos isso, estamos afirmando: “o Senhor é o meu pastor, e de nada eu sinto falta”, ou seja, no Schabat, no sábado do Senhor, devemos repousar como se toda a nossa obra estivesse sido completada, até mesmo tirando o nosso pensamento do trabalho, e nos entregando nas mãos de um Deus que tem cuidado de nós.
Quando nos desviamos de guardar o sábado do Senhor, condenamo-nos a uma vida egoísta e prepotente, fugimos da criação de Deus, queremos nos tornar independentes, mas quando praticamos o sábado do Senhor, temos um vislumbre do que seja o descanso eterno (Hb 4). Quando, pela fé,  enxergamos isso, trabalharemos seis dias, mas teremos um coração inflamado pelo descanso e a celebração no Sábado, o dia do Senhor. Que nos mantenhamos firmes experimentando aqui na terra o que há de ser o Sábado eterno, o descanso da eternidade. Este é o maior presente para a humanidade: o Sábado do Senhor.

Referências
A Bíblia Anotada. Primeira edição. São Paulo, Mundo Cristão.1994
A Torá. Primeira Edição, São Paulo, Abba Press e SBIA. 2010
A Torá, Lei de Moisés. São Paulo, Editora Sêfer. 2001
BUNIM, Irving M. . A Ética do Sinai. São Paulo, Editora Sêfer. 1998
CARSON, D.A. Do Sabbath ao Dia do Senhor. São Paulo, Cultura Cristã. 2006
GARCIA, Paulo Roberto. Sábado: A mensagem de Mateus e a Contribuição Judaica. São Paulo, Fonte Editorial. 2010
GORODOVITS e FRIDLIN. Bíblia Hebraica. São Paulo, Editora Sêfer. 2006
GRONINGEN, Gerard Van. São Paulo, Fides Reformata 3/2 1998 p.149-167
HESCHEL, Abraham Joshua. O Schabat, seu significado para o homem moderno. São Paulo, Perspectiva. 2009
MEHL, Ron. A Ternura dos Dez Mandamentos. São Paulo, Editora Quadrangular. 2006
PORTELA, Solano. A Lei de Deus Hoje. São Paulo, Editora Os Puritanos. 2000
REIFLER, Hans Ulrich. A Ética dos Dez Mandamentos. São Paulo, Vida Nova. 2009

Sábado, nosso oásis no deserto

Esse dia especial é uma pausa no tempo humano e uma janela no tempo divino

Uma pesquisa realizada em vários países pela Associação Internacional de Controle ao Estresse indica que o brasileiro é o segundo indivíduo mais estressado do mundo; perde apenas para os japoneses, sendo que a medalha de bronze desse “pódio” fica com os americanos. No Brasil, para 70% dos entrevistados, o trabalho é a maior fonte desse problema. Os principais motivos são a pressão por resultados e o excesso de trabalho.1 De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), o alto nível de estresse ligado ao trabalho é uma epidemia mundial.2
É comum ouvir pessoas definindo suas vidas como “correria”. Estão sempre agitadas e com agenda cheia. Reclamam de estar sobrecarregadas, cansadas e de correr contra o tempo. Muitos já atingiram o estado de exaustão. As pessoas estão ignorando a necessidade do descanso; por isso, há muita gente doente, que está, literalmente, morrendo de tanto trabalhar. Em resposta, os especialistas e os profissionais da saúde são unânimes em dizer: “É preciso parar e descansar!”.
Para Augusto Cury,3 esse cenário de estresse do mundo contemporâneo fica ainda mais agravado por causa da Síndrome do Pensamento Acelerado (SPA). Essa síndrome, segundo ele, é causada pelo excesso de informações e estímulos a que somos expostos diariamente, através da Televisão, da Internet (principalmente redes sociais) e de outras mídias. Cury explica que a mente recebe tanto conteúdo que é incapaz de processá-lo e, por isso, vive agitada e em alta rotação. Por não conseguir descansar a mente, as pessoas perdem o controle sobre os pensamentos e as emoções. Assim, veem-se ansiosas, irritadas, excessivamente cansadas, com insônia e outros problemas psicossomáticos.4
De fato, vivemos em meio a uma geração cansada, estressada e emocionalmente enferma. Nesse contexto, é magnífico saber que nosso Criador nos mandou descansar. Ele estabeleceu um dia especial para isso: o sétimo dia da semana. A mensagem do sábado continua necessária e atual, pois pode consistir num escape desse cenário caótico. Após seis dias de trabalho, temos um dia para acalmar o coração e refazer as forças. É um dia de adoração, reflexão, comunhão e alegria. Uma parada para relaxar, descontrair e se renovar.
O sábado é um oásis no deserto, um dia sem estresse, uma ilha tranquila num mar agitado. Esse dia é um “santuário no tempo”.5 É uma pausa no tempo humano (cronos) e uma janela para o tempo divino (kairós). É um momento para o Senhor e para nos alegrarmos nele (Is 58:13-14). Somos convidados a nos afastarmos das atividades diárias e do trabalho físico e nos reconectarmos ao Criador, buscando uma comunhão pessoal e íntima com ele. É um tempo para sermos tratados e curados em nossas emoções e em nossa espiritualidade.
Mais do que nunca, a ordem Lembra-te do dia de sábado (Êx 20:8) precisa ser ouvida e obedecida, pois as pessoas, de forma geral, estão se esquecendo do descanso. Contudo, esse tem sido um mandamento esquecido pela maioria dos cristãos, embora seja tão evidente na Bíblia. É verdade que, atualmente, há vários autores reconhecendo a necessidade de guardar o sábado, mas negando a forma bíblica de guardá-lo. Alguns afirmam que o domingo é o sábado cristão. Será? Outros dizem que basta escolher um dia, durante a semana, para descansar; assim, qualquer dia pode ser “sábado”. Será?
A Bíblia é clara com relação ao dia do Senhor. Deixa evidente como guardá-lo e porque guardá-lo. Lá no Éden, Deus estabeleceu um modelo para nós, ao descansar, abençoar e santificar o sétimo dia (Gn 2:2-3). Sendo o Senhor do tempo, estabeleceu como deve ser o seu ciclo regular, seguindo a ordem da semana: em seis dias se trabalha e em um dia se descansa. Este descanso especial não pode ser em qualquer dia, mas, sim, no sétimo dia (Êx 20:8). Com base nesse modelo, podemos dizer que viver de acordo com a vontade do Senhor “equivaleria a trabalhar arduamente e depois descansar santamente”.6
O sábado é o único dia que tem nome na Bíblia, pois o Senhor fez dele um dia separado para a comunhão, dedicado ao culto e marcado pela alegria, pelo contentamento e pela confraternização. Deus ama os seus filhos e deseja ter um relacionamento próximo e intenso com eles. Todo relacionamento precisa de tempo de qualidade. O amor precisa de tempo de qualidade para se desenvolver. Os pais, mesmo que vejam seus filhos todos dias, precisam dedicar um momento especial para estar mais próximos deles e fortalecer o vínculo com eles. Para nos relacionarmos com o nosso Criador e Pai, ele nos deu o sábado. Em todos os dias estamos com ele, mas, no sábado, nós lhes damos exclusividade.
É fundamental recordarmos o significado e o propósito desse mandamento, para não corrermos o risco de o negligenciarmos ou de o guardarmos só por tradição.
A série de lições que estamos estudando neste trimestre – O Sábado – trata da importância do sábado para os cristãos, e faz isso através de argumentos sólidos, pois, além de relembrar a origem, o significado e os benefícios do descanso no sétimo dia, também prova que Jesus não aboliu o quarto mandamento da lei de Deus: tanto ele quanto os apóstolos e a igreja primitiva guardaram fielmente o sábado. Portanto, este continua em vigor.
Cremos que a cruz não aboliu o quarto mandamento e a salvação pela graça não nos isenta de obedecer à lei de Deus. Esse santo dia aponta para o amor e o cuidado de Deus por nós. Foi dado para ser bênção em nossas vidas. Infelizmente, muita gente despreza essa bênção. Mas você pode desfrutar do descanso que o Criador lhe oferece e, assim, encontrar refrigério e alento em dias de agitação.
Àquele que até do sábado é Senhor (Mc 2:28), sejam dados a honra, a glória e o louvor, pelos séculos dos séculos. Amém!

Pr. Alan Pereira Rocha, diretor do Ministério de Ensino da IAP


1Brasileiro é segundo mais estressado do mundo. Disponível em: <http://www.ismabrasil.com.br/img/estresse52.pdf>. Acesso em: 19 de julho de 2018.
2OMS e a saúde mental de funcionários no ambiente trabalho. Disponível em: <https://nacoesunidas.org/oms-empresas-devem-promover-saude-mental-de-funcionarios-no-ambiente-trabalho/>. Acesso em: 19 de julho 2018.
3 Cury (2014:103-104)
4 ibidem, p.100
5 Heschel (2014:41)
6 Eberhart (2014:24)

Celebração a Deus


Com cerca de 1.500 pessoas, o culto se iniciou em intensa presença de Deus. O coral do Demap louva ao Senhor, levando a todos a adorar o Senhor da Igreja. “Que a chuva que cai lá fora seja o prenúncio de bençãos que Deus tem para derramar aqui dentro”, disse o Pr. Hermes Brito, dirigente do culto.