Tempo: Como administrá-lo?

Como um pastor pode se organizar, de forma que tenha vida devocional, tempo para lazer, tempo para exercícios físicos, tempo para a família e para o trabalho ministerial?

O exercício do trabalho ministerial é dinâmico e complexo. O pastor precisa se preparar para o púlpito, já que lhe incumbe a responsabilidade de alimentar o rebanho. Igualmente, necessita acompanhar as ovelhas, aconselhando-as e orientando-as. Há os cursos bíblicos a serem ministrados, as visitas aos enfermos e pessoas que não podem ir mais ao templo, dirigir e participar de reuniões, lidar com situações de emergência. Sem falar nas questões de administração eclesiástica, que também demandam tempo significativo.
Em razão do ativismo que impera na sociedade moderna, caso não se tome cuidado, não sobra tempo nem mesmo para o planejamento de nosso tempo. De um compromisso parte-se para o outro e assim sucessivamente. Isso implica alguns riscos. Romper este ciclo demanda persistência e dedicação.
O tempo é um recurso que pode estar a nosso favor ou não, depende de como o administramos. Quanto menos planejamos nosso tempo, menos tempo temos. Quanto mais nos organizamos, melhor utilizamos o tempo.
Quem nunca desejou que o tempo parasse ou o dia tivesse mais de 24 horas?! Mas, se não for por ação divina, naquilo que está ao alcance do ser humano, o tempo não vai parar, o dia não terá mais de 24 horas. Portanto, o desafio é nos organizarmos para ter mais tempo disponível para as necessidades e responsabilidades que temos.
Esperamos que esses passos possam ajudá-lo:
1º) Reflita sobre quais são seus papéis na vida (trabalhador, esposo, pai etc). Sobre seu trabalho, reflita sobre a razão de existir do mesmo, qual é a missão principal das suas atividades, quais resultados precisa alcançar, onde quer chegar? Leve em consideração suas opiniões, mas também a visão da organização em que você está inserido para definir seus objetivos de trabalho. Isso vai ajudá-lo nas escolhas e tomadas de decisões de maneira a manter o foco de suas ações.
Busque ter clareza sobre quais são as atribuições e responsabilidades que lhe competem, assim como as deixe claro aos que convivem contigo.
2º) Faça uma lista das principais tarefas que você precisa realizar para alcançar os resultados desejados no seu trabalho. Defina quais são ações prioritárias e as urgentes.
Se não houver organização do tempo, certamente serão atendidas as necessidades urgentes e não necessariamente as mais importantes.
Em matéria publicada pela revista Você S/A, edição 134, foi citada uma pesquisa com mais de trinta mil pessoas, realizada por uma empresa especialista em gestão do tempo, em que se constatou que as pessoas gastam apenas 30% do tempo com coisas importantes. Os outros 70% são distribuídos entre atividades circunstanciais (as que geram excesso de trabalho sem retorno) e as urgentes (as atrasadas, que geram estresse).
Segundo o especialista que estava à frente da pesquisa em questão, as pessoas precisam aprender a definir prioridades. Para facilitar, recomenda-se classificar as atividades em importantes, urgentes e circunstanciais.
3º) Relacione todos os compromissos a serem enfrentados nos próximos quinze dias, organizados de hora em hora. Somente fazendo isso, é necessário identificar o que tem demandado mais tempo na sua agenda e analisar como você tem utilizado seu tempo.
Atenção:

  • Pessoas estressadas tendem a se tornar improdutivas. Em muitos casos, o sofrimento psíquico, emocional e até físico surge em função de falta de planejamento das atividades. Faz-se muito, mas sem foco claro as ações não alcançam os resultados, ou ainda as conquistas vêm, porém às custas de demasiado esforço. Com a organização do tempo, há a possibilidade de demandar energia na medida certa, nem mais nem menos.
  • A má administração do tempo pode indicar insatisfação com o trabalho ou parte dele, uma forma de fugir de atividades que se julga não serem prazerosas ou não se sente capacitado para realizá-las.
  • Um outro risco da falta de organização é gastar muito tempo para uma necessidade, e não sobrar para as demais. Fica claro que não se está dando conta do que se tem se tem prá fazer, ou acaba se sacrificando áreas importantes que deveriam ser atendidas, como a família.
  • Concentrar o trabalho em áreas que tem mais afinidade, em detrimento das demais, também é perigoso. Evidentemente, cada um tem mais facilidade em um determinado assunto. No entanto, isso não significa que as demais questões também não devam ter a sua atenção. Por exemplo, o pastor é um grande evangelista, mas não pastoreia, não visita os irmãos. Ou gosta muito das questões administrativas eclesiásticas, ocupa-se com elas, e não dispõe de tempo para ouvir, para aconselhar os que necessitam desse atendimento.
  • A dificuldade em impor limites é outro fator catastrófico para aqueles que desejam e necessitam organizar o tempo. Saber dizer não e sim, sem comprometer seus valores de vida e sua agenda faz toda a diferença. Para os autores de “Limites: Quando Dizer Sim, Quando Dizer Não”, Henry Cloud e John Towsend, “favores e sacrifícios fazem parte da vida cristã. A permissividade, não. Aprenda a distinguir as duas coisas observando se a sua concessão está ajudando o outro a ser melhor ou pior.”

4º) Confronte a lista de tarefas que você identificou no 2º passo com a do 3º passo e analise as possíveis mudanças necessárias para existir um melhor aproveitamento de seu tempo.
Cuidado para não ficar idealizando. Os que possuem tendência ao perfeccionismo tendem a realizar pouco. Existe aquilo que é ideal e aquilo que é possível. Procure identificar essas diferenças em seu dia-a-dia.
Mantenha seus materiais organizados, isso ajuda a ganhar tempo. Ambiente desorganizado dificulta a administração do tempo.
Não há como falar em organização do tempo para líderes sem falar do cuidado com a centralização e necessidade de delegar atividades como uma forma de tornar possível a realização das atividades necessárias.
5º) Planeje sua agenda. Coloque tudo que deve ser feito por escrito na agenda, com prazo de conclusão.
Defina o tempo que se dedicará semanalmente para cada atividade. Não sobrecarregue a agenda, pois, eventualmente, será necessário atender os imprevistos. Especialistas no assunto sugerem que apenas 70% do dia deve ser planejado, os 30% restantes ficam para as urgências.
Na organização de seu tempo, lembre-se de que não existe apenas o trabalho, todos possuem família, amigos, necessidade de lazer e cuidados pessoais. Contemple na agenda estas questões, caso contrário, sempre ficarão em segundo (talvez até mesmo último) plano. Estabeleça tempo para você e sua família e já reserve na agenda, como dias de descanso, exames médicos periódicos e datas importantes (datas de aniversário do cônjuge e filhos, aniversário de casamento).
Seja firme em seguir seu planejamento, evitando abrir exceções. Cuidado para a exceção não virar regra e o planejamento, uma eventualidade.
5º) Procure conversar com seu líder e/ou pessoas que você julgue ter uma boa administração do tempo sobre a forma como eles percebem sua maneira de organizar a agenda. É uma forma de você checar se está sendo eficiente e também aprender com a experiência de outras pessoas.
Concluímos desejando que todos possam utilizar o tempo com sabedoria, superando qualquer dificuldade com o equilíbrio na utilização do tempo para o trabalho e para os outros papéis da vida, sendo frutíferos e multiplicando os talentos que o Senhor colocou em nossas mãos.
Pr. Nestor Freschi Ferreira e Dsa. Lilian Gava Ferreira

Liderança pastoral: Centralizada versus participativa

No início da Bíblia, encontra-se o que pode ser considerado um dos maiores legados de modelo de liderança. Chamado por Deus para uma difícil missão, o homem usado para libertar o povo hebreu da longa escravidão egípcia e estabelecê-lo na terra prometida quase desfaleceu junto com o próprio Israel, não fosse o alerta do seu sogro na direção de uma nova estratégia no comando espiritual daquela nação.
Moisés era comprometido com a responsabilidade assumida diante do Senhor; não dá para pensar diferente. Isso é essencial, mas pode não ser tudo; importa, e muito, saber que resultados alcançarão os que vivem sob determinada liderança. “Totalmente desfalecerás, assim tu, como este povo que está contigo: porque este negócio é mui difícil para ti; tu só não o podes fazer”, disse-lhe Jetro (Êx. 18:18).

Por mais obvio que seja, embora nem sempre pareça, é praticamente impossível a uma pessoa estar no centro das atenções de um grupo e ser a solução para todas as suas necessidades; principalmente, se ela for o elemento pensante e o agente executor.
O líder centralizador se cansa e cansa; às vezes, ele até percebe os seus limites, mas não é capaz do altruísmo, da iniciativa na divisão de tarefas; e de reconhecer a liberdade legal que os membros do corpo, nas suas múltiplas funções, têm para atuar em prol da coletividade. Todos perdem, inclusive ele.
Liderar é saber administrar competências. O líder participativo, por sua vez, divide a carga de trabalho; ele vê, nos membros do corpo, a manifestação de dons, satisfazendo-se com a oportunidade de reconhecer e ser o regente de uma riqueza de talentos, que, organizados e motivados, são aperfeiçoados na obra do ministério, “… para edificação do corpo de Cristo” (Ef. 4:12b).

Liderança pastoral

O chamado de um pastor pressupõe um trabalho de liderança. Paralelamente às atividades essencialmente pastorais, como visitação, aconselhamento e ministração de ritos e sacramentos, estando à frente de uma igreja, ele terá outra demanda para atender, podendo citar-se reuniões departamentais, elaboração de planos de trabalho, formação de equipes de evangelismo etc. E o estilo de liderança que adotar terá forte influência sobre o comportamento dos membros, podendo determinar, em grande parte, os resultados.
Uma área de vital importância no sucesso pastoral é a sua capacidade de ouvir. Mas ouvir não é só escutar. Com a orientação recebida, Moisés escolheu homens capazes e os pôs por cabeças sobre o povo, e todo o negócio pequeno eles julgaram. Muitas vezes, o pastor, não sabendo ouvir e nem delegar, desgasta-se com tarefas que não lhe competem, enquanto a afirmação bíblica para os que dividem o trabalho é: “… assim a ti mesmo te aliviarás da carga, e eles a levarão contigo” (Êx. 18:22b).
O pastor que tem a visão de equipe logo avalia que a melhor maneira da igreja alcançar os seus objetivos é o esforço conjunto. O comando é dele, a quem compete indicar o caminho e corrigir o rumo. Porém, não deve inibir a colaboração, limitar a cooperação e impedir a criatividade.
É muito importante quando o pastor vê a liderança compartilhada como uma premissa básica, uma marca da sua administração.
Pr. Elias Pitombeira de Toledo
São José dos Campos – SP

Dia do Pastor 2010

Alcançaremos nossa incorruptível coroa de glória?

Cada vez que, atentamente, olhamos para os heróis da Bíblia, confirmamos que o combate da fé nunca foi fácil. Paulo, autor da expressão “combati o bom combate”, a pronunciou momentos antes da sua própria execução. A coroa, como objeto sonhado e desejado, nos remete para momentos depois do fim da batalha, aquela hora solene de entregar o prêmio aos vencedores. Temos vivido e enfrentado batalhas, suportando as nossas e encorajando as ovelhas que pastoreamos a suportarem as delas. E tudo envolto pelo olhar da fé que aguarda coroas, incorruptíveis e cheias de glória.

E então, alcançaremos tal galardão? E as ovelhas para as quais regularmente pregamos, alcançarão? I Pedro 5.4 indica o tempo histórico da realização desta esperança: “E, quando aparecer o Sumo Pastor, alcançareis a incorruptível coroa de glória.” Somos pastores a serviço do Sumo Pastor. Para Ele, somos ovelhas-pastores, portanto, como as demais ovelhas, ansiosos, seguimos aguardando seu aparecimento.
Enquanto aguardamos, qual deve ser nosso comportamento neste tempo de espera? A mesma carta fornece a melhor orientação. I Pedro 5.1-3 claramente aconselha os pastores: “Aos presbíteros, que estão entre vós, admoesto eu, que sou também presbítero com eles, e testemunha das aflições de Cristo, e participante da glória que se há de revelar: Apascentai o rebanho de Deus, que está entre vós, tendo cuidado dele, não por força, mas voluntariamente; nem por torpe ganância, mas de ânimo pronto; nem como tendo domínio sobre a herança de Deus, mas servindo de exemplo ao rebanho.”
A clareza desta passagem é confortante. Pastores devem apascentar, devem ser promotores da paz, reconciliação, união, comunhão, harmonia. Devem fazê-lo com um cuidado afetuoso, nunca com atitude e gestos gananciosos, mas com toda disposição, entrega, dedicação e serviço, pois assim temos sido amados por Deus através do sacrifício de Cristo. Ele é o nosso Sumo Pastor, afinal, como servo, se humilhou até a morte, e morte de cruz, mesmo sendo Deus, suportou as piores afrontas que alguém jamais suportou.
Continuemos a jornada do nosso ministério seguindo a clara orientação bíblica: apascentar ovelhas com amor, sempre, todo dia, toda hora, em qualquer lugar, pois todo dia é dia do pastor, nossa vocação não se limita a um simples contrato profissional, e sim a um pacto, uma aliança. Esta é a nossa missão, e é no desenvolvimento dela que, um dia, única e exclusivamente pela graça salvadora do Cordeiro, haveremos de ver o aparecimento nos céus do Sumo Pastor, aquele que entregará o galardão a cada um dos salvos.

Correndo atrás do vento

Negar o percurso natural da vida, querendo manter-se jovem a todo custo, gera uma sociedade doente
“Desejei fazer tantas coisas quando era jovem… Daqui a pouco faço 30 anos e isso me assusta. A vida passa muito depressa.” (Sandy Lima, cantora) *

Nunca tive problemas em revelar a minha idade ou com o fato de envelhecer.  No entanto, fiquei perplexa e chocada quando cheguei aos meus quarenta anos, e, sentindo-me no auge de minha vida produtiva conversava sobre isto com uma pessoa que, recentemente, passara dos 40 e ela me disse: “Sendo otimistas, já vivemos a primeira metade de nossas vidas: agora, entramos na metade final”. Confesso que por alguns dias, essa afirmação ficou martelando em minha cabeça.
Tempos depois, li uma reportagem que mostrava a tendência de algumas mães de compartilharem do guarda-roupa de suas filhas adolescentes, sendo que o texto destacava que o gosto jovial nem sempre está em sintonia com outros aspectos da idade dessas mães.
Pode não ser fácil para a maioria de nós, que chegamos aos 40, encarar a       realidade de estarmos possivelmente na metade de nossas vidas (Deus permita que eu chegue ao dobro do que tenho hoje!) e de que algumas roupas talvez não combinem mais conosco, mesmo que ainda sirvam em nosso corpo. Talvez porque isso nos obrigue a depararmo-nos com um fato: todos estamos envelhecendo, em ritmos ou em estágios diferentes e esta trajetória é inevitável.
Nossa pele pode ser bem tratada e esticada, mas jamais será viçosa como aos 15 ou 20 anos de idade.  Nossos cabelos alisados e tingidos podem disfarçar a brancura, mas não a falta de maciez e brilho de um cabelo jovem. Um corpo malhado ou esculpido a bisturi pode manter-se atraente, mas não apresenta o mesmo frescor e vitalidade de 20 anos atrás. Sabemos disso, mas ainda assim, somos frequentemente tentados a fugir do envelhecimento e a mascarar, de alguma forma, nossa idade real. Exercícios, cremes, vitaminas, plásticas, roupas: fazemos de tudo para encontrar a fonte da juventude eterna.
O lado bom é que a ciência e a indústria se empenham cada vez mais para colocar a nossa disposição recursos que retardam alguns efeitos indesejáveis do envelhecimento e mantêm a aparência jovem por mais tempo. Com certeza devemos usufruir de todas as possibilidades de envelhecer com mais saúde e, porque não, com mais beleza?
O que não podemos é negar o percurso natural da vida! Esta negação gera uma sociedade doente, que despreza seus idosos e que não admite envelhecer, no máximo, entrar na “melhor idade”. E o que dizer daqueles que mais se deprimem do que se alegram por se tornarem avós?
Creio que, muitas vezes, o desprezo que sentimos por nossos velhos pode tentar mascarar o desprezo que sentimos pelo que seremos, inevitavelmente, amanhã.
Os cientistas dizem que manter uma atitude positiva diante da vida contribui para a saúde e a longevidade. Há milhares de anos, o sábio Salomão afirmava em Provérbios 15:13 que “um coração alegre deixa o rosto bonito”, demonstrando que a alegria de viver é um poderoso antídoto contra os sinais do envelhecimento.
Correr atrás dos anos que estão passando é como “correr atrás do vento” (Ec 2:17). Não podemos alcançá-los, pois eles “passam muito depressa”.
Precisamos estar atentos para não deixar que o a neurose da passagem do tempo nos assuste e nos prive da gratidão e alegria de viver cada momento de nossas vidas como único, como verdadeiro presente de Deus, enquanto temos tempo.
* Portal IG – 14/05/2011
Romi Campos Schneider de Aquino, psicóloga, é diaconisa na IAP em Curitiba (PR).

Uma ponte precária

A história de Alice Payne, com câncer terminal aos 15 anos, nos leva a pensar sobre a brevidade da vida.
“Você só tem uma vida… viva a vida”. Estas palavras são de Alice Payne, uma jovem britânica de 15 anos em estado terminal de câncer. A adolescente “atraiu mais de 230 mil visitantes para o seu blog no qual relata sua busca em conseguir completar uma lista de 17 coisas que pretende fazer antes de morrer”, segundo o Portal G1.com. Alice lançou seu blog no dia 6 de junho de 2011, após ser desenganada pelos médicos. Em sua apresentação no blog, ela diz: “Eu sei que o câncer está me vencendo e não parece que eu vou vencer esta” … “é uma pena, porque há tanta coisa que eu ainda queria fazer”.
Mesmo perto da morte, as palavras da jovem destilam um desejo intenso pela vida. Avizinhando-se do fim, seu coração ainda pulsa por viver. Nada mais natural, afinal de contas, não fomos feitos para morrer. Este não era o plano original. O Criador não desejava este fim. A morte foi criação nossa, ele apenas consentiu visto não haver outro caminho. Pois, para que fôssemos realmente livres, era necessário existir a possibilidade de escolha.
Deveríamos poder escolher entre amá-lo ou não; obedecê-lo ou não. Infelizmente, fizemos a escolha errada. Morremos. Longe dele, o que nos restou foi a morte. No entanto, como um vírus que se aloja num organismo, o desejo pela vida permaneceu entranhado em nossas almas. Latente, pulsante. Fomos infectados de vida. Este desejo de viver, intrínseco em cada ser humano, é o gene que a humanidade carrega de seu Criador. É o traço herdado de Deus, que persiste em nossa face por sermos criados a sua imagem e semelhança. Para Salomão, isso significava dizer que “Deus colocou o anseio pela eternidade no coração do homem” (Ec 3.11 BV).
A iminência da morte despertou em Alice Payne a sede existencial que reside em cada ser humano. Diante da transitoriedade da vida, aflorou em sua consciência o sentimento de urgência. O que, de fato, deveria ocorrer com cada um de nós. Isso mesmo, pois o exemplo de Alice deveria provocar em nós o mesmo anseio por viver. O mesmo sentimento de urgência. Quem não atina para a brevidade da vida termina a jornada arrependido.
Por isso, Salomão, sem medo de ser rotulado como hedonista, aconselha: “Alegre-se em todos os dias de sua vida” (Ec 11.8 BV). E aos jovens: “Aproveite bem sua mocidade!” (Ec 11.9 BV). A razão de toda esta euforia por viver a vida é a seguinte: nossa jornada existencial é ligeira. Foi isso que Alice percebeu tão precocemente. Em tão tenra idade, ela se lamenta: “há tanta coisa que eu ainda queria fazer”.
A transitoriedade da vida é revelada em toda a Bíblia. É uma verdade exaustivamente ensinada pelas Escrituras. Ao olharmos para a Alice, bem como para as Escrituras, atinamos para a brevidade de nossa existência. Percebemos que ela é passageira. Que os dias passam tão rápidos quanto os momentos bons ao lado de quem se ama. Que os minutos não param e as horas não esperam. Que o tempo não se cansa de correr e que os bons momentos são cruéis e impiedosos, pois não nos possibilitam a chance de vivê-los novamente. Que o tempo é implacável e inegociável, pois com ele, nunca há uma segunda chance. O que se fez se fez, e não há nada que mude isso.
É só olharmos para exemplos como o de Alice para percebemos que a vida é como uma ponte em ruínas, daquelas capazes de suportar apenas mais um caminhante. De maneira que, a cada passo damos à frente, desintegra-se atrás de nós a trilha do antigo andar. Não dá para voltar atrás. Assim é a vida. É o que aprendemos com a Alice.
Aprendemos que, sendo a vida passageira, deve ser aproveitada e desfrutada com intensidade. Ela é preciosa demais para ser desperdiçada. Não devemos gastá-la negligentemente com desejos mesquinhos e realizações egoístas. Lembre-se das palavras de Alice: “Você só tem uma vida!”
Kassio F. P. Lopes é missionário da IAP em Corumbá (MS).

Quem está imune à queda?

A história do diretor-gerente do FMI nos choca mas também ensina lições

O “tempo fechou” para o diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional, Dominique Strauss-Kahn. Ele foi acusado de abuso sexual contra uma camareira de 32 anos, funcionária do hotel onde estava hospedado. Isso teria acontecido por volta da meia noite de sábado, dia 14 de maio. Ao todo, foram dirigidas sete acusações contra ele. A prisão de Strauss-Kahn aconteceu quase na véspera de uma série de novas negociações sobre como lidar com a crise do bloco monetário europeu. As acusações contra ele são muito graves. Tão graves que a pena máxima para elas é de 74 anos e três meses de prisão. E por falar em prisão, o seu destino, ao menos por enquanto, será a cadeia de Rickers Island, que fica próximo ao aeroporto de LaGuardia, em Nova York, já que a justiça americana lhe negou o pedido de liberdade sob fiança no valor US$ 1 milhão.
Este é um dos assuntos que tem ocupado a manchete dos jornais nos últimos dias. Os mais conhecidos meios de comunicação o abordaram. Afinal, o homem em questão não se trata de qualquer um. Todo mundo sabe, inclusive os franceses, que Strauss-Kahn, até há alguns dias, era o nome mais cotado para vencer as eleições presidenciais de 2012 na França, tendo em vista que a popularidade do atual presidente francês, Nicolas Sarkozy, está em baixa. A importância do chefe do FMI é tão grande no mundo que o escândalo envolvendo o seu nome causou um efeito negativo nas bolsas de valores da Europa. Se ele é inocente ou não, Deus sabe e os exames feitos, certamente dirão.
O certo é que a situação de Strauss-Kahn é, no mínimo, embaraçosa. Se as acusações forem verdadeiras, ele terá de amargar, pelo resto da vida, o fato de perder, em questão de minutos, uma reputação conquistada no decorrer de uma vida. De qualquer modo, isso nos mostra que, por mais poderoso que alguém possa ser, não está imune à queda. Isso não é difícil de perceber se olharmos para as páginas das Sagradas Escrituras. O que dizer, por exemplo, de Salomão, o homem mais sábio de sua época, cujo poder era munido de uma grandeza inestimável? Ele construiu uma das maravilhas do mundo de então, a saber, o templo de Jerusalém, mas não conseguiu firmar a si próprio. A sua vida espiritual, simplesmente, desmoronou. Neemias observou que as mulheres estrangeiras o fizeram cair no pecado. (Ne 13:26)
Outro personagem que vem à lembrança é o pai de Salomão, Davi. Este homem, além de ser um poderoso monarca de seu tempo, era também o homem segundo o coração de Deus. Quem declarou isso, foi o próprio Senhor (At 13:22). Contudo, em um momento da vida, se deixou seduzir pela própria cobiça e pecou, tomando para si, uma mulher alheia (2 Sm 11:4). Então, a verdade é clara: todos somos sujeitos à queda, independentemente da nossa influencia na sociedade. Como devemos agir diante de uma eventual queda? Davi é um bom exemplo. Ele reconheceu o erro e se arrependeu. Como consequência disso, Deus o perdoou (2 Sm 12:13). Embora o nosso tempo seja diferente, o Deus de Davi é o nosso também, e o seu perdão é o mesmo. Acredite: ele levanta do pó os fracassados.
Ms. Jailton Sousa Silva é colaborador do Departamento de Educação Cristã da IAP.

John Stott: 90 anos de vida com Deus

Nascido em 27 de abril de 1921, na Inglaterra, John Stott completou 90 anos de vida, dos quais, a maior parte ele tem dedicado ao Senhor Jesus. Considerado um dos evangélicos mais respeitados em todo o mundo, Stott tem dado uma contribuição decisiva para a Igreja Cristã e Evangélica nas últimas décadas. Sem dúvida, a sua maior colaboração tem sido na produção e distribuição em larga escala de seus livros, tais como o best seller A Cruz de Cristo, A Mensagem de Romanos e Cristianismo Básico.
Ele foi apontado em 2005 pela revista Time como uma das 100 pessoas mais influentes do mundo. Segundo site da Editora Mundo Cristão, John Stott se tornou ainda mais conhecido depois do Congresso de Lausanne, em 1974, quando se destacou na defesa do conceito de Evangelho Integral, uma abordagem cristã mais ampla, abrangendo a promoção do Reino de Deus também na transformação da sociedade a partir da ética e dos valores cristãos.
Em nossos dias, quando vemos que tantas pessoas gastam o seu precioso tempo com leituras de livros e outras literaturas que pouco ou nada contribuem para a edificação cristã, é reconfortante saber que Deus tem preservado a vida de um homem valoroso como John Stott. Como pastor e  escritor cristão, tem sido certamente uma das vidas mais dedicadas à causa do Evangelho no século XX e início do século XXI. Oremos para que Deus continue lhe concedendo saúde e que ele se mantenha exercendo a função de importante defensor da Teologia Ortodoxa.
Seguem algumas afirmações de Stott, extraídas de algumas de suas obras:
“Apesar da grande importância do seu ensino, exemplo e obras de compaixão e poder, nenhuma destas coisas ocupava o centro da missão de Jesus. O que lhe dominava a mente não era viver, mas dar a sua vida”. A Cruz de Cristo, Editora Vida, p. 25.
O amor não é egoísta. A essência do amor é abnegação. O mais miserável dos homens pode ocasionalmente demonstrar nobreza de caráter, mas isso resplandecia na vida de Jesus como uma chama cujo brilho é inextinguível” – Cristianismo Básico, Ed. Ultimato, p. 56.
Ressentimo-nos das intrusões de Cristo à nossa vida privada, sua exigência de nossa homenagem, sua expectativa de nossa obediência. Por que é que Ele não cuida de seus próprios negócios, perguntamos petulantemente, e nos deixa em paz? A essa pergunta Ele instantaneamente responde dizendo que nós somos o seu negócio e que jamais nos deixará sozinhos” – A Cruz de Cristo, Ed. Vida, p. 47.
“Confesso ser crente na necessidade indispensável da pregação, tanto para o evangelismo quanto para o crescimento saudável da igreja. A situação contemporânea torna mais difícil a pregação, mas não a torna menos necessária” – Eu Creio na Pregação, Ed. Vida, p. 9.
Pr. Marcio Rogério Gomes David é diretor do setor Ceará da Igreja Adventista da Promessa

Justiça que não satisfaz

Osama morreu, mas como o coração de uma criança que perdeu seus pais no World Trade Center pode ser acalentado por esta notícia?
“Justiça foi feita!” disse o presidente dos EUA, Barack Obama, no pronunciamento histórico em que anunciou ao mundo a morte do terrorista Osama Bin Laden, no dia 1 de maio.  É sempre estranho ouvir esta expressão. A impressão que temos é que algo está errado. Isso porque nem sempre essa frase expressa com clareza e verdade o fato a ser narrado em seguida.
Em situações como essas, surge em nossos corações, pelo menos no coração daqueles que abrigam a palavra de Cristo, um sentimento de dúvida: será que, realmente, a justiça foi feita? Ou então: Quais parâmetros foram utilizados para se fazer justiça? Enfim, talvez estas questões surjam em nós, cristãos, pelo fato da Bíblia mostrar por diversas vezes que nosso senso de justiça é lamentavelmente falho. Que os parâmetros que estabelecemos para discernir entre o que é e o que não é justo costumeiramente são equivocados. Nas palavras do profeta Isaías: “Somos como o impuro — todos nós! Todos os nossos atos de justiça são como trapo imundo (Is 64. 6 NVI). O assassinato de Osama foi caracterizado pelos americanos como um ato de justiça retributiva. Obama afirmou ao mundo que, agora, os Estados Unidos podem dizer às famílias vítimas da rede terrorista al-Qaeda que “a justiça foi feita”.
Não quero entrar no mérito da questão se, de fato, era ou não preciso matá-lo. Se não bastaria prendê-lo e oferecer-lhe um julgamento popular justo.  Não estou defendo Osama ou fazendo um discurso piegas sobre a paz. Tão pouco afirmado que os Estados Unidos da América são os mocinhos da história ou então vítimas indefesas de extremistas religiosos do Islã. A Bíblia nos mostra de maneira muito clara que não existem bonzinhos na história política da humanidade e que, todos, indiscriminadamente, são maus e culpados (Jó 15.14-16, Rm 3.9-23).
No entanto, a justiça humana, por mais que seja validade pela ética e por um julgamento moral por parte da maioria, não é capaz de satisfazer o coração daqueles sofreram a injustiça. “A justiça foi feita” disse Obama, mas esposas que perderam seus maridos no dia 11 de setembro ainda choram à noite de saudade em suas camas. Os lugares na mesa ainda estão vazios e a saudade que aflige o coração persistentemente permanece. Os americanos festejaram a morte de Bin Laden, mas inúmeros deles, naquela mesma noite, remoeram a dor das lembranças e molharam seus travesseiros com lágrimas angustiosas. O vazio no coração provocado pela perda dos amigos, filhos, avós e cônjuges no atentado terrorista de 11 de setembro não pode ser aliviado pela morte de um único terrorista.
Osama morreu, mas como o coração de uma criança que perdeu seus pais no World Trade Center pode ser acalentado por esta notícia? Não há como. A justiça humana, por mais que seja válida e até mesmo aprovada por Deus (de acordo com a interpretação tradicional de Romanos 13), não é capaz de satisfazer o coração humano. No máximo, sacia a sede de vingança ou o rancor guardado no coração daqueles que despejam em um único homem todo o ódio de suas almas.
A justiça humana traz euforia, mas também um sentimento de incompletude. Parece que falta algo. E, de fato, falta, pois a única justiça que satisfaz a alma humana é a de Cristo. Isso porque somente a justiça divina é plenamente justa. A justiça estabelecida pelo homem é sempre regada de interesses escusos, motivações espúrias e ética moralmente falível. Deus não julga imparcialmente, pois “justiça e direito são o fundamento do seu trono” (Sl 89. 14).
Deus é essencialmente justo e somente sua justiça traz paz ao coração humano. Por este motivo, quando as cortinas do Universo se fecharem e a saga humana chegar ao fim, podemos ter certeza de que seremos consolados pela suprema Justiça de Deus, que há de julgar vivos e mortos. Somente neste dia nos satisfaremos. Somente então poderemos afirmar como disse Obama: “A justiça foi feita”. Até lá, permanecemos aqui em um mundo injusto.
Kassio F. P. Lopes é  missionário da IAP em Corumbá (MS).

Geração apaixoNADA por Jesus?

Vale a pena analisar o verdadeiro sentido da palavra paixão
Desculpem-me os apaixonados, mas “eu tô fora!!!!
Pode ser extremismo meu, mas não sou muito dada a modismo. Você quer saber de que estou falando?!!! Deixe-me ser mais clara. De vez em quando, deparamo-nos com “ondas” que vem e vão com o tempo (sabe, como uma onda no mar?!!).
Houve uma “geração jeans”, “geração coca-cola”, “geração shopping center”… e no meio evangélico, vemos a febre da “geração apaixonada por Jesus” (eu sou mesmo da geração metanoia!!!). Nenhum problema em exemplos de tipo de gerações, pois a Bíblia está recheada de exemplos (I Pe 2: 9; Sl 14: 5; Mt 12: 39; Mc 8: 38), mas essa aí tem chamado muito a minha atenção (não está na Bíblia, é lógico!!!).
Como pessoa curiosa e eterna estudiosa da língua materna (sou linguista), fui procurar no dicionário o verdadeiro sentido da palavra paixão, olha só o que encontrei:

  1. sentimento ou emoção levados a um alto grau de intensidade, sobrepondo-se à lucidez e à razão;
  2. afeto dominador e cego; obsessão;
  3. disposição para alguma coisa que ultrapassa os limites da lógica; fanatismo; cegueira…

Quando li tudo isso me assustei. Tudo bem, como disse, posso estar levando muito ao “pé da letra” ou estar me vestindo de um estilo farisaico, mas vamos analisar juntos e me ajude se eu estiver errada.
Você poderia refutar se baseando nas palavras de Paulo “o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura…” (I Co 2: 14), mas não creio que o apóstolo esteja falando de coisas desse tipo; pelo que vimos, ‘paixão’ é algo doentio, cego, exagerado (tipo: “jogado aos seus pés!!!”).
Não sei, não. Realmente, este termo “apaixonado por Jesus” não me agrada, sabe?! Você também pode questionar o fato de eu aceitar a expressão “paixão de Cristo” (mas quem disse que eu aceito?). Para isso tem uma explicação: as pessoas criaram o termo porque acreditavam que Jesus fez uma “loucura”, morrendo por um bando de pecadores como nós (agora sim eu usaria o texto de Paulo!!!).
Para mim, Jesus nunca foi um apaixonado, muito menos um “louco”; Ele se sacrificou movido pelo amor que nutre por nós, não por uma paixão!!!
E pra engrossar minha crença e reforçar minha argumentação, coloco ainda o sentido da “paixão” na vida secular: uma pessoa apaixonada faz loucuras (literalmente!!!) que “ninguém merece”, e por conta da tal paixão, da forma como agimos por causa dela e dos efeitos que isso pode causar que… sei não, prefiro sempre dizer que amo Jesus e não que sou (ou estou, o que é pior!!!) apaixonada por ele.
Bem, agora que “coloquei essa pulga atrás da sua orelha”, me ajude e me tire dessa “enrascada”… somos ou não apaixonados por Jesus?!!! No final das contas, você pode até achar que essa geração toda é mesmo apaixoNADA, isso sim!!!
Esther Braga é Mestre em Linguística, especialista em Língua Falada e Ensino do Português, professora há 21 anos e aluna da Faculdade de Teologia Adventista da Promessa (FATAP) – Extensão Norte.

Jesus, um noivo atípico

Enquanto o príncipe William recebeu títulos ao se casar com Kate,
Jesus abriu mão dos seus para buscar sua noiva


Na última sexta-feira, 29 de abril, o mundo parou para assistir a união do príncipe William com a plebeia Kate Middleton. “Foi um dos eventos mais vistos da história. Na Grã-Bretanha, foram mais de 24 milhões de súditos grudados em telões e na televisão. No mundo todo, 2,4 bilhões de espectadores. Mais de um terço do planeta” presenciou, segundo o Fantástico, da Rede Globo, mesmo que à distancia, o que será considerado, sem sombra de dúvidas, o casamento do ano.
Quem assistiu se impressionou com tanto luxo e beleza. O príncipe William, que horas antes recebeu o título de duque de Cambridge, chegou à igreja em uma luxuosa limusine, vestindo um uniforme vermelho da guarda irlandesa, da qual é coronel honorário”. “O título de duque é o mais alto da hierarquia da nobreza britânica, somente abaixo de reis e príncipes”, segundo o G1.com. Desfrutando de uma popularidade avassaladora e de uma aprovação quase incondicional, o casamento do príncipe foi um sucesso! Nenhum noivo poderia esperar algo melhor.
E por falar em noivo peguei-me pensando no fato de que a Bíblia, por diversas vezes, se utiliza desta imagem para se referir a Jesus. No Antigo Testamento, Deus já se utilizava desta metáfora para exemplificar seu amor incondicional por Israel. E é justamente essa metáfora, já presente no Antigo Testamento, que lança luz à designação neotestamentária de Jesus como o noivo e da igreja como sua noiva (II Cor 11.2; Ef 5. 25-27, 31; Ap 19.; 21.1; 22.17). “Segundo esse quadro, o Senhor Jesus é o noivo divino que busca sua noiva em amor e entra em relação de aliança com ela” (Douglas, J. D. – O Novo dicionário da Bíblia). Em Mateus 25.1-13, por exemplo, Jesus, quando ensinava a respeito de seu inesperado retorno, contou a parábola das dez virgens na qual se comparou com um noivo que, repentinamente, aparece para buscar sua noiva.
Entretanto, o que nos chama atenção não é familiaridade que existe no fato de Jesus ser descrito na Bíblia como um noivo, mas, sobretudo, pela incrível diferença existente entre os dois noivos: Jesus e o príncipe William. Enquanto William foi aclamado pelo povo, Jesus foi crucificado por sua nação. Enquanto o príncipe desfrutou de aceitação, Jesus sofreu duras recriminações. Enquanto William foi assistido por mais de dois bilhões de pessoas, Jesus foi visto, basicamente, por palestinos e uns poucos estrangeiros. Um dos maiores eventos do mundo, o nascimento de Jesus, que marca a descida do noivo em busca da igreja, teve mais animais do que pessoas como espectadores.
Enquanto William recebeu títulos ao se casar com Kate, Jesus abriu mão dos seus para buscar sua noiva: a igreja. Enquanto o príncipe desfrutou dos benefícios de sua realeza, Jesus preferiu abandoná-los. Ele desceu de seu trono real baixando à rude cruz. Enquanto William foi rodeado por celebridades, realezas e socialites, Jesus viveu entre os pobres da Galileia rodeado por pecadores, prostitutas, mendigos e publicanos. Gente marginalizada e recriminada pela sociedade da época.  Enquanto William andou de limusine, Jesus andou a pé, no máximo, de jumentinho. De fato, Jesus é um noivo atípico!
Por amar sua noiva, a igreja, ele desce dos céus, abandona seus títulos e honrarias, se humilha até a morte e morre humilhantemente para salvá-la. Jesus, nas palavras de Paulo, “embora sendo Deus, não considerou que o ser igual a Deus era algo que deveria apegar-se, mas esvaziou-se a si mesmo, vindo a ser servo, tornando-se semelhante aos homens. E sendo encontrado em forma humana, humilhou-se a si mesmo e foi obediente até a morte e morte de cruz” (Fl 2.6-8 – NVI). Refletindo nisso, George Herbert fez a seguinte paráfrase:
O Deus de poder, enquanto percorria
Em suas majestosas roupagens de glória,
Resolveu parar; e assim um dia
Ele desceu, e pelo caminho se despia.
(Philip Yancey, O Jesus que eu Nunca Conheci)

Pois é justamente assim, despido de sua glória e realeza, que ele veio buscar sua amada noiva: não em um altar, mas em um madeiro; não em uma igreja, mas em uma cruz. E é por este ato supremo de amor que podemos ter certeza de que, um dia, participaremos de um casamento infinamente superior ao casamento de William e Kate: o casamento cósmico de Cristo e sua Igreja. Até lá, permanecemos aqui aguardando esperançosamente este grande e glorioso dia. E enquanto esperamos,  “O Espírito e a noiva dizem: Vem!” (Ap 22.17).
Kassio F. P. Lopes é  missionário da IAP em Corumbá (MS).

Uma sociedade sem tempo?

“Não tenho tempo para você” pode ser uma forma de comunicar: “você não é prioridade para mim”

Há um comercial de TV que mostra dois personagens jovens, com barba e cabelos crescidos, dialogando sobre o isolamento que sofrem as pessoas que não têm acesso a um determinado pacote de TV a cabo, internet e outros serviços de comunicação. O detalhe, só posteriormente revelado, é que os personagens estão numa pequena ilha onde, além deles, só há um monitor que os “conecta” com o mundo.
A imagem é surreal, o diálogo é curioso, mas aquele comercial reflete a triste realidade em que vivem muitas pessoas na atualidade: “ligadas” a milhares ou até milhões de outras, por meio de recursos tecnológicos, mas isoladas, sozinhas, com seus pensamentos, afetos e problemas.
Como podemos estar tão próximos, tão juntos e, ao mesmo tempo, tão distantes uns dos outros?
Ouvimos dizer que a mesma tecnologia que nos aproxima é a que nos distancia. Não precisamos ser tão pragmáticos assim, pois sempre podemos usar esses recursos a nosso favor, dando um telefonema ou mandando um e-mail, o que nem sempre fazemos.
Apesar de a tecnologia ter vindo para facilitar a nossa vida, e nos proporcionar mais tempo livre, ironicamente gastamos o tempo que temos com as máquinas (TV, telefone, computador etc.) e não com as pessoas. Então, quando alguém solicita nossa atenção, dizemos que não temos tempo.
No entanto, quando não temos escolha, o tempo acaba aparecendo, pois deixamos tudo para ir a um velório, para levar um filho doente ao médico, ir ao hospital quando a pressão sobe ou sofremos algum acidente. Ao arranjarmos tempo nessas situações, descobrimos que a vida, as atividades, a casa, o trabalho, tudo prossegue a despeito da nossa ausência. Porque, então, não conseguimos encontrar tempo para estar com as pessoas?
Talvez porque estar com as pessoas signifique dar a elas bem mais que o nosso tempo: é dar também nossos ouvidos, nossa atenção, é envolver-se com elas e com seus problemas. E isso, certamente, nos assusta.
Por esta razão, muitas pessoas sentem solidão dentro de seu grupo de amigos; jovens sentem solidão dentro de suas escolas; crentes sentem solidão dentro de suas igrejas; filhos sentem solidão dentro de suas famílias; cônjuges sentem solidão dentro de seus casamentos.
Solidão é mais do que não ter alguém por perto, é o sentimento de não ter com quem contar. Por mais que não pareça, estamos fazendo muito quando dedicamos um pouquinho de nosso tempo escutando o outro com interesse e atenção. Mesmo que não possamos dar a solução do problema, o mero falar traz alívio imediato para quem sofre ou se sente só.
Quando nos dispomos a parar por um instante o que estamos fazendo para darmos um telefonema, fazermos uma visita, ou simplesmente ouvirmos alguém, estamos transmitindo uma mensagem profunda: “Você é importante para mim”. E, com certeza, não há nada mais terapêutico do que esta mensagem.
Romi Campos Schneider de Aquino, psicóloga, é diaconisa na IAP em Curitiba (PR).

Onde está Deus na violência?

Onde está Deus na violência?

A cruz desfaz o conceito de que ele não se importa com nosso sofrimento.
A quinta-feira do dia 7 de abril de 2011 tinha tudo para ser uma manhã como outra qualquer na escola municipal Tasso da Silveira, em Realengo, Zona Oeste do Rio de Janeiro. Até que, por volta das 8h30, tudo mudou. Ouvem-se gritos, sons de tiros, pânico e muito tumulto. Wellington Menezes de Oliveira, 23 anos, entrou no colégio portando dois revolveres calibre 38 e, com incrível habilidade e extrema frieza, efetuou muitos disparos contra os alunos. Doze adolescentes morreram e onze ficaram feridos. O massacre só terminou quando o sargento da Polícia Militar, Márcio Alexandre Alves, entrou no local e  alvejou o assassino, imobilizando-o. Uma vez ferido, Wellington se suicidou na escadaria da escola, atirando contra a própria cabeça.
A chacina chocou o Brasil e ganhou repercussão internacional. Todos ficaram perplexos diante de tamanha violência e crueldade. O dia 7 de abril de 2011 ficará cravado em nossas mentes por muito tempo. Será para sempre lembrado como o dia em que os sonhos e o futuro de 12 adolescentes foram brutalmente roubados pela violência. Certamente, nos lembraremos com tristeza desse dia em que o sorriso contagiante de meninos e meninas deu lugar ao pavor e ao medo da morte. Como Peter Pan eles jamais crescerão, pois serão para sempre crianças em nossas lembranças.
Por mais que nos esforcemos, não somos capazes de entender esta tragédia. Os criminalistas, psicólogos, psicanalistas, educadores e cientistas da religião não são capazes de explicar a complexidade da mente de um assassino. “Como alguém pode fazer isso?” perguntam aqueles que desconhecem a capacidade humana de fazer o mal. Parecem não querer acreditar na potencialidade humana para a violência. Todos puderam ver na tela de seus televisores a verdade que a Bíblia afirma categoricamente há séculos: o homem é mau! O massacre do Rio de Janeiro exibiu em uma “vitrine grotesca” toda a violência e crueldade de que o homem é capaz.
Mas, nessa vitrine, pudemos contemplar outro lado.  Tivemos a chance de ver casos de solidariedade e compaixão para com os familiares das vítimas. Diante de tragédias, a empatia se mostra mais evidente, fazendo-nos sentir a dor dos outros. Muitos de nós choramos ao ver o pânico dos alunos, o desespero das crianças ensanguentadas, os gritos de horror, os choros alucinados e a dor que afligia, e ainda aflige a alma dos pais enlutados. Atos como este, de extrema selvageria e violência, mexem profundamente conosco. Bagunçam nossas convicções e violam as leis de nosso status quo. A chacina do Rio de Janeiro põe em desordem a maneira como vemos a nós mesmos e a Deus. Neste momento uma voz, ainda que interna e tímida, começa a susurrar em nossa consciência: Onde está Deus na violência? Como reage a ela? Será que realmente se importa?
Em circunstâncias como esta, são muitos os que enxergam Deus como um espectador impotente, que assiste com extrema frieza e indiferença nossas tragédias e sofrimentos. Por vezes, o imaginamos intocável no céu, enquanto sofremos aqui na terra. “O vemos como estando descansando, ou até mesmo tirando uma soneca em alguma cadeira de balanço celestial, enquanto milhões de pessoas morrem” . Pois é “essa terrível caricatura de Deus que a cruz desfaz em pedaços. Não devemos vê-lo numa cadeira de balanço, mas numa cruz” .
Sim, a única visão capaz de silenciar as vozes pertubardoras, que emergem de nossos corações em meio à violência, é a visão do Cristo crucificado. Diante da cruel violência humana, o único Deus que nos satisfaz é o da cruz.  Pois em última instância, aquele que foi crucificado também enfrentou a violência dos homens. Naquele dia, ele sentiu com mais intensidade as dores do mundo. “A cruz que sustinha o corpo de Jesus, nu e cheio de marcas, expôs toda a violência e injustiça deste mundo” . Assim como nessa chacina, naquele dia no Calvário, Jesus, com o corpo ensanguentado, expôs ao mundo toda a maldade e violência humana. Sim, ele morreu! Sendo Deus, baixou à rude cruz. Sendo  imune ao sofrimento, decidiu sofrer. Sendo impassível, tornou-se passível de dor. Habitando nos céus, desceu à terra. “A cruz re­velou que tipo de mundo nós temos e que tipo de Deus nós temos” . O Deus revelado na Bíblia é parceiro na dor daqueles que sofrem diariamente a violência assassina de um mundo caído.
A cruz nos mostra o amor solidário de Deus por nós ao decidir se identificar com nossas dores. A cruz nos mostra que Deus não é insensivel, apático ou indiferente à dor das pessoas. Ele não está isolado da dor a 704 metros de altura no Corcovado. Pelo contrário, ele está aqui embaixo, com aqueles que choram. Os pais que perderam seus filhos de maneira tão cruel e violenta neste massacre não podem acusá-lo de ser indiferente à dor humana, pois ao se identificar conosco, ele, o Pai Eterno, também viu seu filho, Jesus, morrendo de forma desumana e atroz no Calvário. Por isso, podemos afirmar categoricamente que o coração de Deus bate na mesma cadência daqueles que choram agora pela morte de seus filhos. Sendo assim, eu concordo com  John Stott quando diz:
“Eu […] jamais poderia crer em Deus, se não fosse pela cruz. No mundo real da dor, como se pode adorar um Deus que seja imune a ela? […] É esse o Deus para mim! Ele deixou de lado a sua imunidade à dor. Ele entrou em nosso mundo de carne e sangue, lágrimas e morte. Ele sofreu por nós. Nossos sofrimentos tornam-se mais manejáveis à luz dos seus. Ainda há um ponto de interrogação contra o sofrimento humano, mas em cima dele podemos estampar outra marca, a cruz, que simboliza o sofrimento divino. A cruz de Cristo. . . é a única autojustificação de Deus em um mundo como o nosso” .
A resposta para os questionamentos feitos sobre Deus na violência é a cruz. Que os enlutados por esta tragédia recebam o consolo do único Deus capaz de entendê-los e confortá-los: o Deus do Calvário.
Ao Jesus crucificado seja a glória!
Kassio F. P. Lopes é missionário da IAP em Corumbá (MS).

Philip Yancey, Decepcionados com Deus, Ed. Mundo Cristão, 1997, p. 154.
John Stott, A Cruz de Cristo, Ed. Vida, 2006, p. 148.
Idem.
Yancey (1997:154)
Idem.
Stott (2006:151).

Realengo, um chamado à vigilância

Não precisamos nos arriscar à queda, sendo que podemos evitá-la
Quinta-feira, 7 de abril de 2011, parecia ser mais um dia normal para os funcionários e alunos da escola Tasso da Silveira, em Realengo, na zona oeste do Rio de Janeiro. É possível imaginarmos os alunos chegando à escola, uns no horário, outros atrasados, portando suas mochilas e com expectativas para o restante do dia. Mas, infelizmente, aquele dia, não seria comum, como os demais. Essa escola se tornaria alvo da mídia nacional e internacional e 12 adolescentes, ao contrário do que todos imaginavam, não retornariam aos seus lares. Naquele dia, o ex-aluno Wellington Menezes de Oliveira, entraria na escola, sob o pretexto de ministrar uma palestra, e dispararia cerca de 50 vezes contra as crianças, para depois se suicidar.

O resultado desse acontecimento é visível nos olhos lacrimejantes dos parentes das vítimas. Doze sonhos de um futuro promissor foram ceifados pelo poder destrutivo de duas armas de fogo. O mundo lamentou a tragédia. Para quem perdeu um filho, é difícil retomar a caminhada. O sangue dos inocentes começou a ser removido das paredes e do chão da escola, mas as tristes lembranças assombrarão, por muito tempo, os que convivem naquele espaço. E agora, o que fazer? À polícia nada mais resta a não ser investigar o caso, na tentativa de encontrar mais envolvidos no crime ou, simplesmente, dar um parecer do caso à população. Às crianças que presenciaram o fato, será necessário apoio psicológico.

A tragédia ocorrida em Realengo despertou as autoridades a atitudes preventivas. Onde está a falha culminante em tragédias dessa natureza? A Ordem dos Advogados do Brasil defendeu neste domingo (10 de abril) a retomada da discussão sobre o desarmamento no País. Para o presidente da OAB do Rio de Janeiro, Wadih Damous, o massacre deve servir como reflexão para os riscos que a sociedade corre com o livre acesso de cidadãos a armas de fogo. Por sua vez, o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, disse que está fazendo um levantamento sobre a segurança das escolas municipais, depois do massacre ocorrido na escola pública do Rio de Janeiro. A lógica dessas intervenções é perceptível no ditado popular: “é melhor prevenir do que remediar”.

No mundo espiritual, a prevenção, que tem o mesmo sentido de vigilância, é imprescindível. Estar de sobreaviso é o conselho de Cristo: Vigiai, pois, a todo tempo, orando, para que possais escapar de todas estas coisas que têm de suceder e estar em pé na presença do Filho do Homem (Lc 21:36). Todos nós estamos sujeitos aos imprevistos negativos da vida. As tentações sempre baterão à porta do nosso coração na tentativa de disparar seu veneno mortal e desestabilizar a nossa fé. Por isso, é necessário cuidado! O apóstolo Paulo, homem experimentado em situações adversas da vida cristã, escreveu, inspirado pelo Espírito Santo: Aquele, pois, que pensa estar em pé veja que não caia (1 Co 10:12). Não precisamos nos arriscar à queda, sendo que podemos evitá-la. Façamos isso para a glória de Cristo!
Mis. Jailton Sousa Silva é colaborador do Departamento de Educação Cristã (DEC) da Igreja Adventista da Promessa.

Como vencer a Progéria?


Presente em apenas 63 pessoas em todo o mundo, a doença faz com que o portador envelheça 10 vezes mais rápido
Uma notícia de 24/02/2011 do G1.com registrou: “Células de crianças com progéria são usadas para estudar envelhecimento. Cientistas dos EUA transformaram células da pele em musculares. Pessoas com a doença envelhecem até 10 vezes mais rápido que o comum.”
Uma equipe de cientistas do Instituto Salk para Estudos Biológicos, dos Estados Unidos, montou um modelo inédito para estudar o envelhecimento, usando células obtidas de crianças com uma das formas da progéria, doença que pode envelhecer os portadores até 10 vezes mais rápido do que o comum. Os resultados do estudo foram divulgados na revista científica “Nature”.
Utilizando células da pele dos garotos com uma versão da doença conhecida como síndrome de Hutchinson-Gilford, os pesquisadores norte-americanos conseguiram gerar células musculares e acompanhar o envelhecimento precoce dessas estruturas.
Recentemente, além do G1.com, sites e agências de notícias de todo o mundo, dentre elas a BBC de Londres, discorreram sobre essa doença raríssima, presente em apenas 63 pessoas em todo o mundo. Seu nome: Progéria. Este termo, advindo do grego e que significa “velhice”, descreve uma doença da infância caracterizada por um dramático envelhecimento prematuro. A morte natural de pessoas portadoras da Progéria ocorre em média aos 20 anos de idade. Dependendo, no entanto, de sua gravidade, ela pode levar à morte até crianças de 11 ou 12 anos. Três casos da doença já foram registrados no Brasil. Segundo a BBC, a Progéria é doença tão rara que o caso do garoto Harry Crowther (foto) é o único confirmado em todo o Reino Unido. Harry tem 11 anos e envelhece cinco vezes mais rápido do que seus colegas.
A Progéria nos faz lembrar da realidade espiritual: infelizmente, muitos cristãos ficam velhos na fé muito rapidamente, perdendo as características marcantes do nascer para Deus. Fundamentados no Novo Nascimento (Jo 3:3), tão importante para a vida cristã, afirmamos que, como novas criaturas, não apenas abandonamos a vida anterior, mas também obtemos de Deus qualidades que adjetivam a vida em Cristo como “nova”. No entanto, cristãos que sofrem de “Progéria Espiritual” perdem essas qualidades rapidamente. São aqueles que abandonam as virtudes cristãs nos primeiros meses ou anos de crentes. O primeiro amor logo se vai (Ap 2.4); o verdadeiro evangelho apressadamente é abandonado (Gl 1.6); a frequência na casa de Deus já não existe (Hb 10.25) e até o próprio Cristo é desprezado mui rapidamente (Jo 6.66). O resultado é que, assim como os portadores da Progéria física, os portadores da Progéria espiritual morrem depressa. Eles morrem espiritualmente, quando deveriam usufruir da verdadeira vida, a vida em Cristo Jesus.
O mais triste e terrível é que, diferentemente do caso da doença, na vida espiritual não são poucos os casos em que as pessoas envelhecem e morrem depressa. Algumas estatísticas dão conta de que, de cada três pessoas que um dia se renderam a Cristo, duas estão hoje fora da igreja e retornaram à vida pecaminosa.
O que fazer para que a Progéria espiritual não nos alcance? Que podemos fazer para que a nova vida em Cristo possa continuar sendo verdadeiramente nova, em lugar de vermos a velhice espiritual tomar conta de nosso ser? As Escrituras nos asseguram que é a multiplicação da iniquidade que faz o amor de muitos esfriar (Mt 24.12).
Assim, para continuarmos vivendo as maravilhas da vida nova em Jesus,  precisamos continuar combatendo o pecado. Precisamos aborrecê-lo. Precisamos também nos aproximar cada vez mais de Cristo, pois ele é aquele que nos faz ser renovados a cada manhã. Ele prometeu que estaria conosco todos os dias (Mt 28.20). Então, clamemos por ele! Falemos com ele! Aproximemo-nos do autor da vida e do doador da nova vida e a Progéria espiritual não nos atingirá, pelo contrário, seremos fiéis ao Senhor de tal modo que em nós será derramada a vida em abundância, da qual falou Jesus (Jo 10.10).
Se você já sente sintomas da Progéria espiritual, saiba que Jesus tem solução para você. Se o seu primeiro amor já se foi; se o prazer em estar na casa de Deus já passou; se aquele tempo especial que você separava para a leitura bíblica nos anos do primeiro amor já não existe, saiba: o Senhor orientou os cristãos de Éfeso que estavam enfrentando a mesma realidade, para que  tomassem três atitudes: 1) lembrar o que fez com que eles caíssem; 2) se arrependerem e 3) voltar a praticar as primeiras obras (Ap 2.4 e 5).
Isso significa que é preciso sondar nosso viver e perceber o que tem tomado em nossa vida o lugar de Deus, pois é isso que está nos fazendo morrer espiritualmente. Isso significa também que é preciso abandonar estas coisas, para que o primeiro amor volte a ser uma realidade em nossas vidas. Nossa vida só pode ser considerada uma nova vida se praticarmos aquilo que é próprio da vida com Deus. Ou seja, “caridade, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão e temperança” (Gl 5.22). Façamos isso, e em nome de Jesus, venceremos a Progéria espiritual.
Pr. Marcio David Gomes, diretor do setor Ceará da Igreja Adventista da Promessa.

Uma sociedade insensível


Choramos pela viagem de lazer que não deu certo ou pela lataria arranhada do
carro, mas não nos comovemos com as mortes pela TV

Romi Campos Schneider de Aquino
Nos últimos tempos, assistimos com muita frequência notícias sobre enchentes, desmoronamentos e terremotos. Mais recentemente, vimos um dos países mais ricos e desenvolvidos do planeta, o Japão, sucumbir diante de três catástrofes concomitantes: terremoto, tsunami e desastre nuclear.  Diante disso, sentimo-nos aliviados por morarmos em regiões onde tais riscos não são aparentes.
As estatísticas de mortes nas estradas ao final de cada feriado são alarmantes, porém, ficamos felizes porque voltamos para casa sãos e salvos. Evitamos notícias sobre a violência, para não aumentar o nosso medo e a insegurança.
Com o tempo, esses acontecimentos, de tão frequentes, tornam-se banais, sendo apenas “mais” uma enchente, “mais” uma morte violenta, “mais” um acidente grave. Muitas vezes, a solução para esses dramas parece estar ao alcance de nossa mão, ao desligarmos o botão da TV ou mudarmos de canal.
É certo que nos alimentarmos de tragédias e violência não faz bem, mas tentar fugir faz? Será que uma vez que tais situações somem de nossos olhos, somem também de nossas vidas? Com atitudes assim, sem darmos conta, vamos nos tornando, aos poucos, cada vez menos sensíveis ao sofrimento alheio.
Recentemente, perdi um amigo de forma trágica. Ele não era apenas um nome, um rosto no noticiário. Era um belo e talentoso rapaz que eu vi crescer e com quem compartilhei muitos momentos de minha jornada pessoal e cristã. Dói muito quando passamos por uma situação assim. No entanto, quando não conhecemos as vítimas, elas  apenas fazem parte das estatísticas.
Choramos pela viagem de lazer que não deu certo, pela lataria arranhada do carro, pela frustrada aquisição de um bem, enquanto muitos choram porque perderam vidas numa enchente, numa boca de fumo, numa curva de estrada, num hospital mal equipado. Perda de tudo: bens, vida e esperança.
Sei que parece impossível colocar-se no lugar do próximo, compreender seus sentimentos e enxergar suas necessidades. E, ainda que fosse possível, surge a pergunta: “de que adiantaria, o que eu poderia fazer?” Não quero imaginar qual seria o fim do homem ferido no caminho se o samaritano tivesse feito para si esta pergunta e continuado indiferente pelo seu caminho (Lc 10:30-37).
Quando agimos com frieza, fugimos ou somos indiferentes ao sofrimento alheio, estamos abrindo caminho para o distanciamento e a banalização dos vínculos emocionais com o próximo. Então, deixamos de ajudar uma pessoa que está passando por um problema material ou por uma dor emocional, porque entendemos que a responsabilidade de ajudar não é nossa.  Da mesma maneira, não nos envolvemos com problemas espirituais que as pessoas enfrentam, porque “já temos tantos problemas, afinal”.
Ainda que não compreendamos como o “chorar com os que choram” (Rm 12:15) possa diminuir o sofrimento de alguém, isso pode despertar a nossa sensibilidade, levando-nos a sentir a dor outro como nossa também e a perceber que sempre há algo que podemos fazer.
Certamente, há alguém em nossa comunidade, em nossa igreja, em nossa família precisando de ajuda material, de apoio emocional, de conforto ou de carinho. Quando nos tornamos emocionalmente sensíveis para com os que estão longe, começamos a entender que somos também responsáveis pelas necessidades dos que estão perto.
Romi Campos Schneider de Aquino, psicóloga, é diaconisa na IAP em Curitiba (PR).

Seguros num mundo em convulsão


Como um barco açoitado por fortes ventos e por violentas ondas, assim navega a humanidade, por mares desconhecidos e bravios
O olhar do mundo se volta para o Oriente. Uma avalanche de notícias surpreende a todos: tsunami, terremotos, contaminação radioativa, usina nuclear em chamas, revoltas populares e crimes contra a humanidade. A voz dos oprimidos nos países árabes é ouvida por todo o mundo. Primeiro foi o Egito, depois o Iêmen, a Líbia e agora a Síria.
As pessoas, cansadas da opressão imposta por seus governos totalitários, se agigantam na luta pela tão sonhada democracia. Mas a liberdade não é conquistada sem custo. O oriente chora a morte de homens, mulheres e crianças que derramaram seu sangue sobre o solo empoeirado de suas pátrias. Hastearam a bandeira da liberdade e da democracia sob o custo de suas próprias vidas. Será que a Líbia, o Iêmen e a Síria terão o mesmo desfecho que o Egito? Não sabemos. Há sempre palpites e previsões, mas só o tempo mostrará as reais implicações de tudo o que tem acontecido.
O Japão, por sua vez, à semelhança da ave fênix na mitologia grega, tenta ressurgir das cinzas. As cidades do litoral, devastadas pelo tsunami, tornaram-se grandes depósitos de entulhos. Restos destorcidos e destruídos do que já foram carros, prédios e casas se amontoam pelas ruas. Devido à incrível habilidade dos japoneses em lidar com as tragédias, o país tende, progressivamente, a se recuperar. Mas o certo é que o Japão jamais mais será o mesmo. Ninguém mais será. As catástrofes naturais deixam um cheiro de insegurança pairando no ar. O caos, a incerteza e a instabilidade põem em desordem as perspectivas do futuro.
Os acontecimentos que presenciamos no mundo são marcos na história humana. As tragédias ou as grandes mudanças têm a admirável capacidade de nos fazer repensar no rumo que estamos seguindo. As noticias funcionam como um “chacoalhão”, que nos despertam de um sono profundo. Passamos a nos preocupar com o futuro, com aquilo que ainda virá. E é justamente aí que nasce a insegurança. Podemos nos sentir seguros em um mundo que parece estar em convulsão?
É difícil responder. Vivemos um período de transição. As coisas estão mudando o tempo todo. Tudo tem sofrido drásticas alterações: a economia mundial, o meio-ambiente, a política e a sociedade em geral.  Nada de novo, afinal de contas, vivemos em um mundo mutante, ou seja, um mundo em constantes mudanças. Isso nos instiga a perguntar: o que se despontará no horizonte nebuloso da história humana? Quais serão os novos desafios? Como caminhará a economia mundial?  E as convulsões ambientais, acontecerão em dimensões menores do que a do Japão ou podemos esperar, de nossa “irmã natureza”, hostilidades de proporções ainda maiores? Como será escrito o próximo capitulo de nossa odisséia?
As perguntas são como fortes ventos em dia de temporal, que nos jogam de um lado para o outro, atordoando nossas mentes. Aliás, esse parece o cenário exato para pintar o quadro do momento histórico em que vivemos. Como um barco açoitado por fortes ventos e por violentas ondas, assim navega a humanidade, por mares desconhecidos e bravios. Ao que parece, por enquanto, o horizonte ainda está entenebrecido pela escuridão da noite. É impossível enxergar o cais ou aportar em lugares seguros.
Esse cenário tempestuoso nos faz lembrar outra tempestade. A tempestade enfrentada por Jesus e seus discípulos (Mc 4.35-41). Na ocasião, Jesus dormia na popa do barco, enquanto seus discípulos se desesperavam ante a fúria do mar. Curiosamente, Jesus dormia em meio ao vendaval. Parece que aquilo que nos causa medo e insegurança não é capaz, sequer, de tirar o sono dele. As fortes ondas que sacudiam o barco violentamente embalavam Jesus em seu repouso. O som assustador dos ventos açoitando o barco pareciam canções de dormir aos ouvidos do mestre. Os discípulos não suportaram aquela cena. Rapidamente o acordaram (v.38). “E ele, despertando, repreendeu o vento e disse ao mar: Acalma-te, emudece! O vento se aquietou, e fez-se grande bonança” (v.39).  De acordo com o registro bíblico, uma vez vencida a tempestade, Jesus e seus discípulos chegaram à outra margem do mar (Mc 5.1).
Fico pensando: se eles confiassem que Jesus era capaz de acalmar a tempestade ainda sim o acordariam ou seriam mais confiantes a ponto de também descansarem? Será possível sentir-se seguro em um ambiente de total insegurança como o de um vendaval?  Esse relato das Escrituras pode nos encorajar a descansar em Cristo mesmo quando a jangada da humanidade navegar por mares turbulentos e tempestades furiosas. Afinal de contas, para os que navegam com Jesus, uma vez vencida a tempestade, aportarão seguros em seu destino eternal. Por isso, mesmo diante da instabilidade global e da insegurança mundial, sintamo-nos seguros, pois com Jesus chegaremos ao nosso destino final.
Kassio F. P. Lopes é missionário da IAP em Corumbá (MS).

A verdadeira tragédia da Líbia


Os líbios não são mais pecadores que nós, brasileiros, por enfrentarem o caos político.
Desde a semana passada, a mídia tem se ocupado em noticiar os últimos fatos da revolta popular na Líbia. A população foi às ruas protestar contra o atual governo do ditador Muammar Kadhafi, líder da nação. Segundo Ronald Bruce St John, especialista em assuntos da Líbia e autor de 11 livros sobre o país, “a revolução popular foi motivada por um descontentamento com a fraude e corrupção de seu regime.” 1 Ainda não se sabe ao certo o número total de mortes, mas estima-se que o conflito já deixou centenas de vítimas. Na repressão militar aos manifestantes, inúmeros cidadãos acabaram perdendo suas vidas. Isso nos faz lembrar que um dia, Jesus também ouviu notícias semelhantes vindas de Jerusalém. ”Naquela ocasião, alguns dos que estavam presentes contaram a Jesus que Pilatos misturara o sangue de alguns galileus com os sacrifícios deles” (Lc 13.1 NVI).
Essa era a notícia da hora. Se na época de Jesus já existissem emissoras de televisão, com certeza, a transmissão seria interrompida para noticiar aos telespectadores os últimos fatos de Jerusalém. O procurador romano da Judéia, Pôncio Pilatos, autorizara a morte de alguns galileus no exato momento em que estes ofereciam sacrifícios a Deus. O número de mortes aqui também é desconhecido, mas podemos inferir que não foram poucos. Entretanto, na Bíblia, nenhuma noticia é tão nova assim. Como já afirmou o sábio: “Não há nada novo debaixo do sol” (Ec 1.9c). Crimes políticos são tão antigos quanto a própria humanidade. Tais atos de atrocidades sempre ocorreram no decorrer da história humana, de Pilatos a Muammar Kadhafi. A história está recheada deles. O imperador Nero iluminava Roma à luz das chamas que consumiam os corpos de homens e mulheres que professavam a fé cristã. Augusto Pinochet foi responsável por mais de três mil mortes no Chile. Charles Taylor, ex-líder da Frente Nacional Patriótica de Libertação da Libéria (1989-1997), é tido como responsável por 75 mil mortes em duas guerras civis no país.
E o que dizer de Hitler e do holocausto nazista ou das torturas infligidas pelo regime militar no Brasil, no qual centenas de pessoas foram mortas e torturadas com extrema crueldade? Enfim, poderíamos discorrer por horas acerca das várias atrocidades cometidas no decorrer da história por governos totalitários. Kadhafi não é o primeiro, nem o pior. Sempre houve aqueles que abusaram do poderio nacional. Mas o que Jesus tem a dizer a respeito destes fatos? Qual sua palavra em momentos como estes, em que onde a tirania de um opressor prevalece sem punição? O que Ele tem a dizer, tanto ao opressor quanto aos oprimidos da Líbia?
Voltemos ao texto de Lucas 13.1-5 e vejamos suas considerações acerca do massacre do galileus ocorrido em seus dias. “Vocês pensam que esses galileus eram mais pecadores que todos os outros, por terem sofrido dessa maneira?”, perguntouJesus, “Eu lhes digo que não!” (Lc 13.2 NVI).
Os ouvintes de Jesus certamente se surpreenderam. Também, pudera! Ele nem sequer condena o crime cometido por Pilatos. Em nossos dias este governador seria acusado pela Organização das Nações Unidas de crime contra a humanidade e sofreria sérias sanções pela comunidade internacional. Estranho, não acha? Esperamos que Jesus invoque alguma condenação futura para tal opressor ou que, ao menos, esclareça aos oprimidos o aparente silêncio de Deus em momentos como esses na história. No entanto, Jesus não diz nada. Nem sequer menciona o nome de Pilatos. Ele parece não se impressionar tanto com tal notícia. Afinal de contas, ele sabe, mais do que ninguém, que, em um mundo caído, a opressão e a brutalidade, por vezes, regem povos e nações. Que o mal em inúmeras ocasiões tende a dominar governos e estados.
Jesus se concentra apenas em afirmar que, os que são vítimas de tais opressores, não são mais pecadores do que qualquer outro ser humano. Em outras palavras, os líbios não são mais pecadores do que nós, brasileiros, por enfrentarem o caos político. As tragédias e os conflitos nem sempre obedecem à lei de causa e efeito. Não podemos afirmar que esses conflitos sociais são castigo divino. Mas então, o que dizer?
Melhor é concordarmos com o Mestre e dizer que tragédia mesmo é morrer sem arrependimento e contrição! Pois, para Jesus, a verdadeira tragédia não era morrer sendo vítima de um governo opressor, mas fechar os olhos para o mundo sem arrependimento e salvação. Por este motivo alerta seus ouvintes: “… se não se arrependerem, todos vocês também perecerão” (Lc 13.2). A verdadeira tragédia da Líbia é a morte de centenas de pessoas que não tiveram ou não aproveitaram a chance para se arrepender de seus pecados. Sendo assim, oremos ao Senhor pedindo sua misericórdia, tanto ao opressor quanto aos oprimidos da Líbia. Que eles tenham a chance de se arrepender e serem salvos pela infinita graça de nosso Senhor Jesus Cristo.
Kassio F. P. Lopes é  missionário da IAP em Corumbá (MS).
1 Disponível em: http://g1.globo.com/revolta-arabe/noticia/2011/02/discursos-sugerem-que-
kadhafi-esta-num-estado-delirante-dizem-analistas.html
. Acessado em 25/02/2011.